terça-feira, 12 de agosto de 2008

5º SEMESTRE- 2008/2

O segredo do tempo é consumi-lo sem percebê-lo.É fingir-se infinito para não o vermos passarÉ fazer-se contar em anos em vez de momentosRelógio, despertador, cronômetro, calendárioTudo engodo para imaginarmos prendê-lo, controlá-loAmpulheta, único instrumento sincero do tempoRegressivamente, nos impõe a gravidadeDe haver realmente um último grãoRiscando na areia a nossa fragilidade Mas o tempo é imparcialNão distingue rico de pobrePreto de branco, homem de mulherDevora-se sem escolhasMatar o tempo é matar-se sem sentidoPerdê-lo é viver em vãoFaz-se devagar nos maus momentosDepressa quando o queremosPonteiro invisível da vidaPeça necessária do fimA sua fome é insaciávelA sua vontade é determinanteA sua procura é unanimeSe esconde nas sombras que se movemNos objetos que não mais servemNas pessoas que nunca mais vimosNa podridão das frutas que não foram colhidasNas lembranças já esquecidasRevela-se nas fotos que se desbotamNas cartas que amarelamNas crianças que crescemNas rugas que aparecemDeixa-nos a esperança de PandoraNas ações dos que virãoNo nascimento dos rebentos.
PAULO ESDRAS

Nenhum comentário: